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O cerco a Bolsonaro começa a se fechar

É a construção de um álibi para defender-se de possíveis acusações.

Nunca antes na história do Brasil democrático um ministro da Justiça, ou ex-ministro, teve sua prisão decretada. Nunca antes um presidente fugiu do país para não passar a faixa ao seu sucessor. E nunca antes manifestantes invadiram ao mesmo tempo as sedes dos três Poderes da República, destruindo o que puderam.

Está bom ou quer mais? Nunca antes o Exército forneceu abrigo a golpistas que pediam a anulação de eleições por discordarem dos seus resultados. Nunca antes portas de quartéis viraram incubadoras de terroristas, como bem observou recentemente o novo ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA).

A pedido da Advocacia-Geral da União, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ordenou a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Um dia depois de assumir a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Torres voou ao encontro de Bolsonaro em Orlando.

Antes de fazê-lo, demitiu ocupantes de cargos-chave da Secretaria e não nomeou seus substitutos. Dessa forma, a Secretaria estava acéfala no dia da tentativa do golpe insinuado há mais de ano pelo ex-presidente que se evadiu. Torres anunciou sua volta ao Brasil para não ter que entrar na lista dos procurados pela Interpol.

Quer ele colabore ou não com as investigações sobre o golpe, a memória do seu celular poderá ajudar a esclarecer muitas coisas. Por saber disso, ele antecipou que o celular foi clonado e que alguém em seu nome teria enviado mensagens. É a construção de um álibi para defender-se de possíveis acusações.

Bolsonaro já construiu o dele para desvincular-se da suspeita de que sabia do golpe. Dirá que condenou os bloqueios de estradas por caminhoneiros, a invasão por vândalos do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, e que estava fora do país quando isso aconteceu. Convincente?

Quanto à memória do seu celular… Uma vez, pediram ao Supremo a apreensão do celular de Bolsonaro. Ele revoltou-se, disse que jamais o entregaria, antes mesmo de o Supremo julgar o pedido improcedente. Mas à época, ele era o presidente. Agora, não é mais nada, e responde a quatro inquéritos no Supremo.

Se o único problema de Bolsonaro fosse o celular, ele não teria problema algum. Poderia jogá-lo no mar da Flórida, onde se refugiou, e alegar depois que o perdeu ou que ele lhe foi roubado. Mais dia menos dia, Bolsonaro será forçado a retornar ao Brasil; teme ser mandado embora pelo governo americano.

Se pensa em exilar-se na Itália, terra dos seus avós, fique sabendo que por lá não será bem-vindo. O governo da Itália é de extrema-direita, embora finja que é só de direita. Sob pressão de chefes de Estado da Comunidade Europeia, a primeira-ministra italiana criticou o movimento golpista do último dia 8 no Brasil.

Bolsonaro arrisca-se a ficar parecido com o antigo porta-aviões São Paulo, da Marinha brasileira. Posto à venda, ele foi comprado por uma empresa turca para ser desmontado e transformado em sucata. Sua entrada na Turquia, porém, foi proibida pelo governo porque o navio contém materiais tóxicos em sua estrutura.

Desde então, o navio vaga pelo mundo sem encontrar um país que o aceite.

Fonte- Metropoles/ Ricardo Noblat

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